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São Paulo Cidade Criativa

Para a grande maioria das pessoas, viver em São Paulo não é uma opção. Se fosse, mais da metade de seus moradores já teriam ido embora. É o que comprovou a pesquisa da Rede Nossa São Paulo durante oito anos seguidos e que, em sua última edição,  apresentou a nota 3,7 dada pelos paulistanos para a qualidade de vida na cidade.

Se as pessoas moram em São Paulo por necessidade ou obrigação é de se imaginar que fatores como ansiedade, depressão e medo são características comuns das pessoas que “sobrevivem” na selva de pedra. Aliás, assunto já amplamente divulgado por pesquisas da Organização Mundial da Saúde e de outras instituições relevantes.

Ter sensibilidade para compreender a relação de dependência econômica das pessoas com a cidade de São Paulo e criar iniciativas que reduzam o sofrimento de quem vive na cidade é o dever de todos os líderes criativos e inovadores comprometidos com a vida daqueles que habitam ambientes urbanos complexos.

Mais do que isso, ter compromisso com ideias e atitudes que melhorem os indicadores de liveability (condições de vida) é fundamental para atrair e reter talentos e empresas que mantenham a competitividade econômica e a influência política e social de uma cidade. Prova disso é que nenhuma sede das cinco empresas e marcas mais valiosas do mundo está em uma cidade global.

Faço questão de chamar a atenção sobre a importância da criatividade e da economia criativa neste processo de construção do espírito da cidade, pois com a revolução digital e das novas mídias, as chamadas cidades globais sofrerão cada vez a competitividade das chamadas liveable cities. Digo isso, pois vi de perto a decadência vivida atualmente pela cidade de Detroit, nos Estados Unidos.

A arrogância e a falta de sensibilidade dos líderes empresariais e políticos de Detroit para manter a cidade competitiva e interessante, fizeram com que a indústria e os empregos da cidade desaparecessem, os talentos e influenciadores se mudassem para cidades como São Francisco, Boston e Chicago, o medo e a depressão tomassem conta da classe média e da periferia e as máfias e a criminalidade assumissem o controle.

Simultaneamente, tive a oportunidade de morar em Toronto, considerada uma das melhores cidades do mundo para se viver e trabalhar, segundo Global Liveability Ranking 2017 da revista The Economist, e assistir uma situação completamente inversa. Todos os dias, centenas de jovens criativos e empreendedores com suas startups desembarcam no Canadá para montar seus negócios, trabalhar em uma das empresas de tecnologia que estão transferindo seus escritórios para lá e começar a construir suas famílias

Muitos dizem que a liderança criativa e acolhedora do Primeiro-Ministro Justin Trudeau, em oposição ao do temido e cafona Donald Trump é um dos fatores de atração desta nova geração de talentos. Não à toa, no dia em que o novo presidente foi eleito, o site de imigração canadense saiu do ar nos Estados Unidos pelo excesso de consultas e visitas.

Esse exemplo mostra que quando uma cidade ou um país perde sua capacidade de atrair e manter talentos, sobram aqueles que não tem opção ou alternativa e deixam a cidade aqueles que são disputados por seu conjunto de competências e atitudes. Com a revolução digital, a redução das distâncias pela tecnologia e o surgimento do nomadismo digital, São Paulo não disputa mais seus talentos com o Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, mas sim com São Francisco, Toronto, Amsterdã e Boston.

Por isso, compreender a importância de fortalecer a criatividade e a economia criativa na cidade de São Paulo, com uma articulação eficiente entre indústrias criativas, startups, empreendedores sociais e governo é fundamental para produzir uma efervescência cultural e social necessária que desenvolve, atrai e retém talentos e contribui para aumentar o potencial competitivo de empresas e instituições, melhorar a oferta de empregos consistentes, atrair mais turistas e, assim, transformar significativamente a economia da cidade e a qualidade de vida de seus cidadãos.

Investir em São Paulo como Cidade Criativa é coisa séria e um dever de todos os líderes criativos e inovadores comprometidos com o presente e o futuro do trabalho e da economia da cidade.